terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Doença ou ruindade?

Por Professoras e Terapeutas Crislaine Fraga e Dara Ramos Ramos



Todos temos ou já tivemos em nossa família alguém que era considerado como doente, mas que em muitos momentos foram considerados pessoas ruins, pessoas que estavam ou estão se aproveitando de seu estado para obterem determinadas regalias, atenções, isenções, enfim, obterem algo que não é considerado justificável, mesmo sendo portadores de algum mal.
Pois saibam que mesmo nós, que somos considerados aptos a diagnosticarmos o que é doença e o que é normalidade não podemos definir exatamente o ponto em que a pessoa sai da doença e vai à lucidez e vice-versa. Psicólogos, clínicos, psiquiatras, todos somos impotentes para a condição da afirmação taxativa.
Por que, se temos o estudo, o preparo, a convivência com casos similares? Porque a passagem de um estado para outro é muito sutil. A linha que define a sanidade da doença é muito tênue e, portanto, julgar é correr o enorme risco de estarmos cometendo uma injustiça.
Há muitos anos passados, atendi um jovem que sofria de crises paroxísticas, a epilepsia. Ele tinha manifestações agressivas e de grande irritação “vindas do nada”, como se referiam seus pais. Isso ocorria a anos e eles atribuíam a muitos de seus, na época chamados de ataques, ao nervosismo inexplicável.
Após algumas sessões ele descobriu que um pouco antes de ter uma crise, sentia uma forte opressão, manifestada em dificuldades de respirar. Essa pessoa não conseguia perceber que esta sensação era um aviso de que iria ter a crise, conhecido como signo-sinal, mas inconscientemente ela “sabia” que a teria, o que desencadeava a irritação e o mau humor. Quando percebeu isso, passou a entender que o que sentia era um grande benefício, pois do momento em que surgia esse estado, tinha alguns segundos até que a crise ocorresse. Essa descoberta deu a ele uma proteção maior, pois antes tinha as crises sem poder tomar nenhum cuidado. A partir de então, passou a imediatamente após a sensação de falta de ar, sentar-se onde estivesse, o que lhe poupou de tombos com muitos cortes e pontos. Para se ter uma idéia, os pais faziam com que ele andasse com um capacete para proteger ao menos a cabeça. Imaginem um adolescente em uma escola andando o tempo todo com um capacete, o que passou desde gozações até humilhações mais fortes?
Mesmo alguns profissionais haviam afirmado categoricamente que, pelo garoto ter esse problema, os pais o haviam mimado demais, agora, um pouco maior, ao não cederem a seus desejos, ele ficava irritado e tinha a crise. 
Onde nós profissionais falhamos? Quando formamos a opinião do porque isso estava ocorrendo e nos sentimos donos da verdade. A partir daí, não se enxerga mais nada.
Uma pessoa que tende a surtos nervosos, entrando em crises convulsivas de choro, rompantes emocionais frente ao que para ela é obstáculo, acaba tendo momentos onde ela “navega” entre a doença, sua fragilidade, e seu desejo, o querer do seu jeito. Eis a grande dificuldade para aqueles que convivem com isso. Sem saberem como agir, ora agem como se o outro fosse um completo incapaz, ora agem como se ele não tivesse nenhuma dificuldade.
Há também casos onde, pessoas geniosas ao sofrerem um mal que os coloca em uma cama, toda e qualquer expressão será encarada como “ele não esta gostando”; “Ele olhou com cara feia para mim” e assim por diante, quando elas estavam apenas contraindo seus rostos pela dor e pelo mal estar que viveram naqueles momentos. Quando a portadora de uma deficiência manifesta realmente a chamada “ruindade”, podem ter certeza que a família desde muito cedo não soube lidar com ela, seja pelo sentimento de dó, seja pelo sentimento de impotência, ou seja, não poderem fazer nada para livrarem-na do problema. Agora o que ficou é sim uma pessoa que aprendeu a ser manipuladora e que vai fazer de tudo para conseguir as coisas de seu jeito.
Em vez de ficar achando que o doente está fazendo “a” ou “b”, o que são interpretações, deve-se olhar o que é necessário fazer, fazê-lo e buscar formas de entender o que as manifestações da pessoa querem realmente dizer. Inferir conclusões apenas dificulta ainda mais o que por si só já é delicado e sutil.


Paz & Luz!!
 Bjo,Bjo 

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